"Vão as estrelas, ficam as pragas", disse o excepcional ator Milton Gonçalves ao comentar a morte da filósofa Ruth Cardoso (então esposa de FHC) há alguns anos.
Exagero de retórica, mas tem gente que mesmo idosa, morre cedo, como foi com Mandela no ano passado.
E é assim também com esses 3 intelectuais da literatura brasileira contemporânea. Embora com produção farta, retratada com imensa brasilidade em dezenas de obras escritas e fases literalmente de efeito, separei pequenos trechos da longa vida deles que me impressionaram em minha curta vida:
- João Ubaldo Ribeiro, baiano radicado no Rio de Janeiro, capital, declarou há mais de uma década que dois Ubaldos viviam dentro dele, um bom e um ruim, e que prevaleceria aquele que ele alimentasse melhor.
- Rubem Alves, mineiro vivendo há anos na cidade paulista de Campinas, ensinava que num relacionamento conjugal os jogos com raquetes faziam toda a diferença. Assim, o casal deveria jogar frescobol (que é um esporte colaborativo, sem adversário) e não tênis (esporte competitivo, que visa dificultar a vida do adversário).
- Ariano Suassuna, paraibano morador da capital pernambucana, Recife, autor de inúmeras e geniais "pérolas", foi também autor da incrível trama Auto da Compadecida, e deixava bem claro que de forma alguma trocaria seu "oxenti" pelo "okay" de ninguém.
Esses pensadores, produtivos e extraordinários escritores morreram entre 73 anos (Ubaldo) e 87 anos (Suassuna). Mas partiram cedo. Tivessem permanecido, a cultura do país teria mais qualidade.
João Ubaldo e Ariano eram da célebre Academia Brasileira de Letras. Rubem Alves, por algum motivo (talvez por ter jogado tênis com alguém 'errado' durante sua vida), não era membro da ABL.