sábado, 16 de abril de 2016

Temer: o satanista virou santo?

É impressionante a catarse que há sobre o impeachment da Dilma, cuja decisão da câmara federal está prevista para nada menos que um domingo, dia 17/04/2016, também conhecido como amanhã (pois escrevo no sábado anterior).

Essa disposição toda de nossos ilustres deputados federais, 90% tradicionalmente ultra-vagabundos, mostra uma das faces mais claras dessa catarse contra Dilma.

O oponente de Dilma no 2º turno da eleição do final de 2014 teve 50 milhões de votos. Dilma ganhou por pouco. A massa de votantes em seu oponente ficou indócil demais quando a velha papou a eleição.

E de lá para cá a coisa é quase insana.

Reputo que metade dessa comoção toda é preconceito subliminar contra o fato dela ser mulher, preconceito à sua ausência absoluta de carisma, preconceito com seu partido PT, preconceito com o líder maior desse partido, o ex-presidente Lula da Silva.

A outra metade, segundo meus cálculos, vem das trapalhadas da presidente(a), e da crise econômica que não necessariamente é culpa dela. Tudo isso competentemente acentuado, levianamente ou não, pela parcialíssima revista Veja, pelos mais honestos Estadão e Jovem Pan, e pelo conglomerado Globo – que é o PMDB dos meios de comunicação (adora puxar o saco do establishment, seja o atual, seja o que mais se desenhar como provável).

A catarse é tão forte, que pessoas estão agressivas, emocionadas, excitadas, entre outros superlativos, com a perspectiva de Michel Temer ser presidente, e ninguém menos que o espertíssimo roedor em forma de político, Eduardo Cunha, ser o 1º na linha sucessória.

Ou seja, esse cara aí assumiria a presidência do país quando Temer viajar, ou se ele empacotar, ou se ele pirar o cabeção com eventual pé no glúteo de sua bela esposa quatro décadas mais jovem, ou mesmo se ele vier a também sofrer impedimento.

Legal, né?

Não percebem os torcedores, que a vingar o impeachment de Roussef, o presidente será alguém que há até poucos meses declarava ter a mesma plataforma de gestão de Dilma, e que além disso hoje é impopular, tem 1% de intenções de voto caso fosse candidato. E o papel de vice-presidente estará a cargo do político brasileiro de menor credibilidade e sobre quem repousa maior suspeição de delitos.

Ah, só mandando uma última sobre Temer.

Na eleição passada, sapequei a candidata do PSOL no primeiro turno, e no segundo fui com a velha (pois não voto no PSDB, ainda mais em Aécio, que ficava de risadinha em velório do Eduardo Campos, e que segundo a imprensa agrediu mulher, não assoprou no bafômetro em blitz policial, processou dezenas de tweeteiros que o detonavam, foi todos os finais de semana de avião passear no Leblon quando governava o estado mineiro, e se procurar acha mais).

Aí, ao declarar minha inclinação, sofri na época patrulhamento feroz de amigos e parentes. Mais incômodo que isso (muito mais) foi ver evangélicos amalucados me azucrinarem querendo me demover de votar na velha pois seu vice, o hoje adorado Temer, seria satanista, seja lá o que significar isso.

Hoje, tais mesmos religiosos já “converteram” o cara, e estão em polvorosa pelo impeachment, devem estar orando, fazendo jejum, campanhas, promessas, devidamente motivados pelos líderes de araque de sempre (entre outros, Feliciano, Everaldo, Malafaia – que aliás declara em youtube adorar o evangélico Cunha...).

Sim, Cunha se declara evangélico fiel, inclusive uma de suas empresas que teria recebido dinheiro de corrupção, tem nome blasfemo de jesus.com ou algo assim.

Cunha se dizer evangélico, na acepção sã da palavra, é uma piada.

Temer ser satanista ou santo, é outra idiotice.

Lembro por outro lado que 'petralhas' me diziam que Aécio era viciado em whisky e cocaína, uma tremenda bobagem. Aécio mantém olhar e ideias firmes e fluentes. Nada a ver dizer que o playboyzão aí é drogado.

Quanta asneira...

Se Dilma é ruim, que o povo então não tivesse votado nela. Se o povo se arrepender, que na próxima eleição vote então em outro cara qualquer.

Mas 500 deputados brazucas escolherem o rumo do país é uma grande derrota.

Estamos na mão, dentre outros monstros sagrados da mediocridade, de Tiririca, Maluf, Bolsonaro, Russomano, Eduardo Cunha (sim, o estrategista torcedor mega-parcial, mesmo sendo presidente da câmara, já disse que vai votar!).

Respeito muito amigos, familiares, e milhões que querem a velha impichada. Obviamente, além dos paspalhos todos acima, há muitíssima gente boa nessa empreitada aí.

Mas fecho com contrários ao impeachment, como Pr. Ariovaldo Ramos (uma das vozes evangélicas mais respeitadas do país), Frei Leonardo Boff (uma das vozes católicas mais respeitadas do país), Wagner Moura (ator que dispensa comentários), e muitos, mas muitos juristas, intelectuais e cientistas políticos.

Dilma definitivamente não era e não é minha primeira opção para o país.

Temer e Cunha definitivamente deveriam estar entre as últimas opções de quem quiser se declarar uma pessoa de bem.