É impressionante a catarse que há sobre o
impeachment da Dilma, cuja decisão da câmara federal está prevista para nada
menos que um domingo, dia 17/04/2016, também conhecido como amanhã (pois escrevo
no sábado anterior).
Essa disposição toda de nossos ilustres deputados
federais, 90% tradicionalmente ultra-vagabundos, mostra uma das faces mais
claras dessa catarse contra Dilma.
O oponente de Dilma no 2º turno da eleição do
final de 2014 teve 50 milhões de votos. Dilma ganhou por pouco. A massa de
votantes em seu oponente ficou indócil demais quando a velha papou a
eleição.
E de lá para cá a coisa é quase insana.
Reputo que metade dessa comoção toda é preconceito
subliminar contra o fato dela ser mulher, preconceito à sua ausência absoluta
de carisma, preconceito com seu partido PT, preconceito com o líder maior desse
partido, o ex-presidente Lula da Silva.
A outra metade, segundo meus cálculos, vem das
trapalhadas da presidente(a), e da crise econômica que não necessariamente é
culpa dela. Tudo isso competentemente acentuado, levianamente ou não, pela
parcialíssima revista Veja, pelos mais honestos Estadão e Jovem Pan, e pelo conglomerado
Globo – que é o PMDB dos meios de comunicação (adora puxar o saco do
establishment, seja o atual, seja o que mais se desenhar como provável).
A catarse é tão forte, que pessoas estão
agressivas, emocionadas, excitadas, entre outros superlativos, com a
perspectiva de Michel Temer ser presidente, e ninguém menos que o espertíssimo
roedor em forma de político, Eduardo Cunha, ser o 1º na linha sucessória.
Ou seja, esse cara aí assumiria a presidência do
país quando Temer viajar, ou se ele empacotar, ou se ele pirar o cabeção com
eventual pé no glúteo de sua bela esposa quatro décadas mais jovem, ou mesmo se
ele vier a também sofrer impedimento.
Legal, né?
Não percebem os torcedores, que a vingar o
impeachment de Roussef, o presidente será alguém que há até poucos meses
declarava ter a mesma plataforma de gestão de Dilma, e que além disso hoje é
impopular, tem 1% de intenções de voto caso fosse candidato. E o papel de
vice-presidente estará a cargo do político brasileiro de menor credibilidade e sobre
quem repousa maior suspeição de delitos.
Ah, só mandando uma última sobre Temer.
Na eleição passada, sapequei a candidata do PSOL
no primeiro turno, e no segundo fui com a velha (pois não voto no PSDB, ainda
mais em Aécio, que ficava de risadinha em velório do Eduardo Campos, e que segundo
a imprensa agrediu mulher, não assoprou no bafômetro em blitz policial,
processou dezenas de tweeteiros que o detonavam, foi todos os finais de semana
de avião passear no Leblon quando governava o estado mineiro, e se procurar
acha mais).
Aí, ao declarar minha inclinação, sofri na época patrulhamento feroz de amigos e parentes. Mais incômodo que isso (muito mais) foi ver evangélicos amalucados me azucrinarem querendo me demover de votar na velha pois seu vice, o hoje adorado Temer, seria satanista, seja lá o que significar isso.
Aí, ao declarar minha inclinação, sofri na época patrulhamento feroz de amigos e parentes. Mais incômodo que isso (muito mais) foi ver evangélicos amalucados me azucrinarem querendo me demover de votar na velha pois seu vice, o hoje adorado Temer, seria satanista, seja lá o que significar isso.
Hoje, tais mesmos religiosos já “converteram” o cara, e
estão em polvorosa pelo impeachment, devem estar orando, fazendo jejum,
campanhas, promessas, devidamente motivados pelos líderes de araque de sempre (entre
outros, Feliciano, Everaldo, Malafaia – que aliás declara em youtube adorar o
evangélico Cunha...).
Sim, Cunha se declara evangélico fiel, inclusive uma de
suas empresas que teria recebido dinheiro de corrupção, tem nome blasfemo de
jesus.com ou algo assim.
Cunha se dizer evangélico, na acepção sã da palavra, é
uma piada.
Temer ser satanista ou santo, é outra idiotice.
Lembro por outro lado que 'petralhas' me diziam que Aécio
era viciado em whisky e cocaína, uma tremenda bobagem. Aécio mantém olhar e
ideias firmes e fluentes. Nada a ver dizer que o playboyzão aí é drogado.
Quanta asneira...
Se Dilma é ruim, que o povo então não tivesse votado
nela. Se o povo se arrepender, que na próxima eleição vote então em outro cara
qualquer.
Mas 500 deputados brazucas escolherem o rumo do país é
uma grande derrota.
Estamos na mão, dentre outros monstros sagrados da
mediocridade, de Tiririca, Maluf, Bolsonaro, Russomano, Eduardo Cunha (sim, o
estrategista torcedor mega-parcial, mesmo sendo presidente da câmara, já disse
que vai votar!).
Respeito muito amigos, familiares, e milhões que querem
a velha impichada. Obviamente, além dos paspalhos todos acima, há muitíssima
gente boa nessa empreitada aí.
Mas fecho com contrários ao impeachment, como Pr. Ariovaldo
Ramos (uma das vozes evangélicas mais respeitadas do país), Frei Leonardo Boff (uma
das vozes católicas mais respeitadas do país), Wagner Moura (ator que dispensa
comentários), e muitos, mas muitos juristas, intelectuais e cientistas
políticos.
Dilma definitivamente não era e não é minha primeira opção
para o país.
Temer e Cunha definitivamente deveriam estar entre as
últimas opções de quem quiser se declarar uma pessoa de bem.