quarta-feira, 11 de maio de 2016

Que medo (da culpa) do pecado!

Medo do ato de pecar, no caso que relatarei aqui.

A culpa do pecado, ensina o Cristianismo, acaba com a justificação, a salvação da alma, e nessa seara não vou me aprofundar (por incompetência, inclusive).

Mas o medo de pecar cega, emburrece, limita, infantiliza, deprime.

Estou ainda chocado com a mensagem de celular recebida de uma velha e boa amiga, que em meio à dor da morte cerebral recém ocorrida de sua irmã caçula lembrou de me perguntar se era pecado desligar os aparelhos. Se era pecado doar os órgãos.

Convertida há alguns anos em alguma denominação neopentecostal que não lembro qual é, embora há anos sem congregar mais naquela fraternidade, o resquício que sobrou foi esse: falta de conhecimento, e medo de pecar.

Tentei avisá-la que pecado é tratar mal papai, mamãe e irmãos. Pecado é não ser gente boa. Pecado é ser mau a vivos.

Tive que "lembrá-la" que no Ocidente, dificilmente algo permitido por lei seria um pecado à luz das próprias religiões ocidentais.

Por fim, para mitigar risco de haver diz-que-diz posterior em sua já traumatizada família, a orientei a deixar para o marido da moça qualquer iniciativa, bem como todo diálogo com médicos e demais profissionais. Lamentavelmente um jovem viúvo agora, mas esse encargo é dele. 

Assim como a orientei também a deixar a logística dos funerais sob os cuidados dos homens da família, devido à imensa melancolia e burocracia que é organizar aquela coisa toda. Dispus-me a ir ao hospital pilotar as ações junto do pobre viúvo, mas ela disse que não precisava.

E disso tudo sobraram duas tristezas: a da morte absolutamente lamentável da jovem; e a do peso do pecado, que faz as pessoas carregarem cruzes que Jesus não ensinou ninguém a carregar.