sábado, 31 de outubro de 2015

Reformar nunca é demais!

"No início do século XVI, o monge alemão Martinho Lutero, abraçando as ideias dos pré-reformadores, proferiu três sermões contra as indulgências em 1516 e 1517. Em 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Catedral de Wittenberg, com um convite aberto a uma disputa escolástica sobre elas. Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante."

O parágrafo acima foi extraído há poucos minutos do site Wikipedia, que por sua vez serviu-se dos sites Monergismo.com e Folhaonline.com.

Hoje, 31 de outubro de 2015, o relatado evento completa exatos 498 anos. Está, portanto, muito próximo de completar meio milênio de aniversário.

É muito tempo realmente para que se traga novos olhares sobre tal efeméride. E não os há talvez, pois o fato em si foi uma grande novidade, um grande marco, e mesmo tendo passado séculos trata-se de algo atual.

Mas nunca é demais reformar.

O autodenominado "apóstolo" Agenor Duque, recém fundador da Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, que se veste com indumentária esquisita meio franciscana, meio sei-lá-o-quê, que simplesmente mergulha as mãos numa cumbuca de vinho para pretensamente ungir o líquido antes dos fiéis beberem em alusão à ceia/eucaristia cristã, assim como sua cônjuge faz tudo isso também como co-líder que é da instituição, ambos precisam reformarem-se, e entre outras coisas pararem de passar ridículos desse tamanho.

A cereja do bolo do parágrafo anterior é que a agremiação, ao completar 9 anos de existência há algumas semanas, sorteou um automóvel 0Km entre os participantes das celebrações - que contaram com figurinhas carimbadas nos festejos, como o ex-craque Marcelinho Carioca (aquele que cuspia nos outros, era odiado dentro e fora das quatro linhas, e depois metia faixa gospel na cachola), o quase-legal político descabelado Magno Malta, e um tal de Marco Feliciano (dono de pérolas filosóficas, como por exemplo o negro-africano ser fruto de descendência amaldiçoada de Noé, e a AIDS ser o câncer dos gays).

O "missionário" David Miranda, que no início dos anos 1960 fundou a Igreja Pentecostal Deus é Amor, pelo menos publicamente perdeu a oportunidade de reformar-se, visto que já não está mais entre nós. Há uns anos zapeando no rádio do carro, estacionei numa estação lá ao ouvir sua inconfundível voz rouca e trêmula. Ele dizia que muitos estavam sendo castigados, até mesmo com a morte, por terem blasfemado (sic) contra o líder.

A ameaça, ou o alerta talvez, foi proferido por um cavalheiro que para falar aos seus ouvintes nos serviços religiosos se enclausurava numa redoma de vidro blindado, tamanho o risco que corria de atentado, supostamente porque entre outras coisas proibia os liderados de assistir TV ou de frequentar piscina/praia no verão, mas dizia-se que em sua mansão os deleites rolavam solto e com luxo. Sabemos que as pessoas perdoam pecados do pecador, mas quase nunca do pregador (se é que ver uma televisãozinha ou dar tchibum numa cabaça d'água seja pecado).

Para não cansar, não vou comentar a ética financeira extra-fronteiras de Estevam Hernandes, a agressividade bizarra histérica e os anéis de ouro de Silas Malafaia, a dinheirama de Edir Macedo (que só para não citar muita coisa, como pessoa física desembolsou há 20 anos nada menos que 45 milhões de dólares para comprar a Rede Record, grana tal que obviamente amealhou de sua igrejona). Também não vou me estender comentando o chapéu, a toalha asquerosa, os muitos erros de português, e as bobagens ditas por Valdemiro Santiago.

Outro dia estava em Manaus/AM a trabalho, almocei com um contato comercial da cidade, e ele compartilhava frustradíssimo que seu pai recém tivera um problemão em negócios com um figurão da cidade. Ao dizer o nome da pessoa, fiz cara de paisagem, como se não o conhecesse de ouvir falar, e como se não fôssemos ele e eu "gospel". O tal cidadão era, ou ainda é, não sei, líder do Ministério Internacional da Restauração. Sinceramente, torço para que tudo tenha sido resolvido, como um mal-entendido superado.

Ainda no mundo gospel, outros nada ilustres patriarcas, apóstolos, bispos e pastores de araque precisam demais se reformar. E como precisam.

Deixo por último entre os ditos evangélicos e assemelhados, constatação melancólica da arrogância e da fixação ao erotismo de Caio Fabio, cuja genialidade gigantesca torna seu caso talvez a maior lástima evangélica do Brasil de hoje. Seu canal no Youtube, e fragmentos de tal que resultam em aparições patéticas no curioso quadro Top5 do humorístico CQC, ilustram bem o que atualmente é seu melhor e seu pior. Uma reforma aí caberia como uma luva.

Sobre a igreja Católica Romana não cabem maiores comentários. Não só porque fora sido ela mesma objeto da reforma protestante de 1517, mas também porque hoje é liderada por uma pessoa simplesmente extraordinária, Francisco I.

Suas ideias, suas falas, mostram que ele só não muda certas tradições e rótulos para não chocar muito, mas parece ter uma cabeça que a história vai ter que se descabelar para encontrar tamanha independência e coerência entre os papas - e houve outros 265 líderes papais. Se ele conseguir passar por cima de filigranas bobas (que aliás seus fiéis já não devem seguir mesmo), entrará para a história com mais distinção ainda.

Vida longa a Jorge Bergoglio!

Vida longuíssima à Reforma Protestante.