quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Preconceito: é claro que existe no Brasil

No último dia 12 de fevereiro o jogador Tinga, do Cruzeiro, ouviu quando tocava na bola a torcida adversária fazer onomatopéias de macaco, em jogo da tradicional taça Libertadores da América, no Peru - cuja população paradoxalmente tem um alto índice de descendentes de não-brancos (é forte a população indígena naquele país).
 
Dois dias depois, numa sexta-feira, uma australiana branquela chamada Louise, que mora há 5 anos em Brasília, não quis ser atendida num salão de beleza por uma profissional negra, nem tampouco queria que a moça lhe dirigisse a palavra (pasmem, isso já em frente aos policiais que foram chamados). Logo depois na delegacia, sustentou semelhantes asneiras perante a delegada - a estrangeira inacreditavelmente voltou a ter repentes racistas, e destratou policiais negros.
 
Naquele mesmo dia, também no Distrito Federal, uma cobradora de ônibus (ou trocadora, dependendo de como se chama em cada região do país) foi chamada de 'negra ordinária' e 'preta safada' porque não quis declinar o nome do motorista a uma passageira, cuja claustrofobia parecia limitar também seu caráter - todos estavam no interior do ônibus quebrado e com as portas travadas.
 
Nos últimos dias, uma foto publicada no Facebook por uma descabelada professora universitária chamada Rosa, do curso de Letras da PUC do Rio de Janeiro, somou milhares de visualizações. A foto estampava em "close" um advogado voltando de férias no aeroporto da cidade, trajando camiseta regata para aliviar o calor, o que na visão da professora caracterizou estilo para se usar em rodoviária e não em aeroporto - ou seja, a professora (cujos alunos, imploro, passem a peneirar o que ela ensina!) teve a pachorra de tirar foto de um terceiro e descarregar em sua página de internet, apenas para detonar o modelo.
 
O advogado posicionou-se pública e educadamente, e a docente melancolicamente tentou se retratar (não sem antes perder cargo de coordenação que tinha na faculdade).
 
A cobradora de ônibus reagiu verbalmente contra a agressora, protestou em rede social, e obteve o apoio da companhia de transporte em que trabalha. A senhora com possível claustrofobia sumiu.
 
A profissional de estética chorou, recebeu o apoio de bastante gente em meio à confusão, e assistiu sua algoz ser conduzida ainda em surto para a delegacia (beneficiada por "habeas corpus", responderá o processo em liberdade).
 
Tinga deu declarações maiorais, com elegância e resignação superiores, enquanto cartolas sul-americanos decidem como punir e minimizar novos desvios de comportamento, e lamentou o choque potencial que o incidente pode causar na cabeça de seus filhos pré-adolescentes - fruto de bela miscigenação racial, diga-se de passagem.
 
Isso para ficar em eventos recentes. Para melancolia geral, há centenas e centenas de outros casos de preconceito, não apenas o racial, mas ele prevalece. Exemplo bizarro é da bela atriz e cantora negra Thalma de Freitas, apreendida em 2011 por atitude (ou raça?) suspeita, e depois pondo seus ofensores com cara de injeção na testa ao ser reconhecida na delegacia.
 
Ah, em tempo: australiana branquela, senhora com "caráter-fobia", e professora descabelada, por favor perdoem-me pelo preconceito.

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