quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

As rapaduras de Azeredo, Jefferson e Maluf

Entregar a rapadura, escrito desse jeito assim, significa informalmente entregar o jogo, ou jogar contra si mesmo, ou mesmo escancarar miséria de outrém. Na internet corroborei mais ou menos isso aí que achava a respeito da expressão 'entregar a rapadura'.

Em tal contexto, Eduardo Azeredo, super-provável mentor do mensalão do PSDB em Minas Gerais, entregou legal a rapadura. Viu que a denúncia que chegou contra ele no STF muito provavelmente prosperaria, e aí ele então acaba de renunciar ao seu mandato de deputado federal para não ser cassado, como tantos outros malfeitores tem feito há décadas. Com o gesto, ele e seus correligionários que sempre alegaram pureza áurea, deram uma bela entregada de rapadura. Azeredo colou em sua própria testa o rótulo de réu. Desculpas esfarrapadas já vieram, e ainda virão aos montes durante a campanha para a sucessão presidencial deste ano - que será, claro, uma competição sobre qual mensalão foi pior, o nacional do PT-Dirceu para compra de apoio ao governo Lula, ou o mineiro do PSDB-Azeredo para pagamento de despesas de campanha eleitoral (do próprio, e também de FHC).
 
Já Roberto Jefferson, delator do mensalão petista, e que jamais explicou o que fez como pessoa-física e/ou presidente do PTB em relação aos R$ 4 milhões que recebeu do esquema, está tendo uma punição relativamente doce. Diria que enquanto Azeredo entrega a própria rapadura, Jefferson lambe a iguaria. Já entregou no passado quando delatou um monte de gente incluindo ele mesmo. Mas agora, vive mais doce. Acometido por um câncer abdominal severo, mas aparentando boa recuperação, é o último a ser preso, e por sua delação foi premiado com expiação bem mais light que seus traídos colegas de esquema. Escudeiro fidelíssimo do então presidente Collor, devidamente ladeado na época por Renan Calheiros, ganhou durante sua exposição midiática simpatia dos incaltos por sua retórica sempre muito bem posicionada e adicionada de certo charme.  
 
Azeredo entregou-se, Jefferson curtiu um doce, mas Maluf, que sempre esteve bem mais para Jefferson que para Azeredo, teve uma rapadura enorme entregue pelo insuspeitíssimo Deutsche Bank, bancão alemão que não quis ficar com a encrenca na mão, e mandou a bagatela de US$20 milhões de volta, literalmente, para os cofres da municipalidade de São Paulo. Em acordo com o Ministério Público local, o banco achou por bem restituir o rombo à origem, pelo fato de ter se convencido que salvaguardava fruto de ilícito.

Maluf, óbvio, negou tudo apesar das tremendas evidências, esse não entrega a rapadura jamais.

Jefferson seguiu curtindo vida semi-doce vencendo heroicamente sua doença no interior do Rio, e passeando de moto até pouco antes de ser preso, na última segunda-feira.

Azeredo, que já se fingia de morto antes de entregar sua rapadura, está mais calado que nunca. E ainda viu seu partido tentar amenizar a má impressão de sua renúncia, ao celebrar totalmente fora da data o aniversário de 20 anos de implementação do Plano Real, veja aqui como foi.

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